Para Luzia Maninha,
com quem primeiro dividi Vivian Maier
A
recente disponibilização do filme Procurando
Vivian Maier na rede e o documentário Eu
não sou seu negro, em cartaz nos cinemas de São Paulo, despertaram em mim a vontade de compartilhar
no blog uma loucura antiga - um
desses jogos hipotéticos em que fantasiamos um encontro que ninguém pode afirmar não ter
existido. Em minha imaginação, Vivian Maier e o jovem Jean-Michel Basquiat estiveram frente a frente, e não poucas vezes, pelas ruas de Nova York.
E como nesses jogos tudo é possível e os dados, ainda que aleatórios, encontram algum tipo de conexão, indicarei aqui provas básicas desse contato, deixando ao leitor e fã, todo um campo de possibilidades ainda por explorar.
Vivian Maier |
Jean-Michel Basquiat |
Premissas:
Vivian Maier nasceu em 1926 e faleceu em 2009 na cidade de Nova York, filha de imigrantes franceses e austríacos.
Vivian Maier nasceu em 1926 e faleceu em 2009 na cidade de Nova York, filha de imigrantes franceses e austríacos.
Jean-Michel Basquiat nasceu em
1960 e morreu em 1988 na
cidade de Nova York, filho de
imigrantes haitianos e porto-riquenhos.
Vivian e Basquiat viveram
na mesma cidade, circularam pelo centro e pelos arrabaldes e carregaram evidentes
sentimentos de inadequação, no mínimo, entre 1964 e 1988, quando da morte do jovem e promissor artista.
Gosto de imaginar que
passaram muitas vezes um pelo outro. Ela a fotografar e a pajear as crianças sob
seus cuidados, ele, a princípio com sua mãe, depois a caminho da escola e, mais
tarde, imprimindo sua marca nos muros e nas retinas.
Crianças em foto de Vivan Maier |
O menino Jean-Michel |
A mãe
de Basquiat levava-o a passear nos museus da cidade. Ele tinha, inclusive, uma
carteirinha de frequentador júnior do Brooklyn Museum. Quem disse que Vivian
Maier não o viu por lá?
Foto: Vivan Maier |
Carteirinha do Brooklyn Museum com assinatura de Basquiat-menino no verso (Foto: Adélia Nicolete) |
Em seus longos passeios, não
teria o olhar de Vivian Maier, sempre tão atento ao belo, cruzado com aquele
rapaz em alguma calçada?
O jovem Basquiat |
Jovem fotografado por Vivian Maier |
O artista Basquiat |
Rapaz fotografado por Vivian Maier |
(Em que
momento os registros começaram a se tornar permeáveis e a se confundir?)
Detalhe de uma obra de Jean-Michel Basquiat |
Em 1978
estreava “O céu pode esperar”, uma refilmagem com Warren Beatty. Aos 14 anos, assisti
no Studio Center, em Santo André. Vivian Maier, em Nova York, registrou o fato.
E quem disse que Basquiat não fez o mesmo?
Autorretrato de Vivan Maier - 1978 |
Cartaz do filme à esquerda e obra de Basquiat à direita |
Alguma parede grafitada ou pichada por Basquiat teria chamado a atenção de Vivian Maier ou ela preferia muros brancos?
Vivian Maier em ação Autorretrato |
Nova York entre 1978 e 1988, período de nosso recorte, abrigava um ambiente artístico fecundo. Vivian e Basquiat eram dois artistas genuínos a traçar caminhos paralelos, a olhar a cidade e seus habitantes, perfeitamente integrados com o seu tempo a ponto de imprimir em seus trabalhos a complexidade do contemporâneo.
Jean-Michel Basquiat - "Notary" - 1983 |
Autorretrato de Vivian Maier - 1971 |
Jean-Michel Basquiat |
Foto: Vivian Maier |
Ah! Eu poderia lançar hipóteses até o infinito,
pois acredito que esse encontro aconteceu. E se não aconteceu outrora, eu
faço acontecer, aqui e agora, nesse blog, e a cada vez que penso na dramaturgia contemporânea e suas
transparências e sobreposições, suas narrativas e seus depoimentos pessoais,
seu hibridismo, sua temática urbana, o cruzamento das imagens e das palavras, por vezes díspares... Mas aí já é um tema para outra reflexão e eu preciso concluir esse devaneio:
Fica decidido, pois, que Vivian Maier e Jean-Michel Basquiat se conheceram, se admiraram e vivem, depois de tantas penas, felizes para sempre porque no jogo que eu faço é assim.
Fica decidido, pois, que Vivian Maier e Jean-Michel Basquiat se conheceram, se admiraram e vivem, depois de tantas penas, felizes para sempre porque no jogo que eu faço é assim.
Adélia Nicolete
Abaixo um site e alguns filmes epara que o jogo possa continuar.
Site oficial com os trabalhos de Vivian Maier
"Procurando Vivian Maier" - 2015, com legendas em português:
"Basquiat" - 1996 - sem legendas em português:
"Jean-Michel Basquiat: the radiant child" - (2010) - documentário com legendas automáticas em português
E não é que você relatando também entrei na história, fico pensando - ela observando aquele total domínio das cores - ele, desconfiado, o que tanto ela apreende, para onde olha aquela mulher, o que faz ela com aquele "adereço" pendurado no pescoço, na tentativa de aproximação explodia-se em cores, sim eu sei, as vezes lhe faltou cores - ela ali do lado captando em PB, o seu “pequeno mundo” andava pendurado em seu caixote, ela registrava, se registrava, uma vida em película, e os rolos se multiplicando. Que bom que eles existiram e andaram lado a lado, linguagens...
ResponderExcluirO que tanto admira minha amiga fotógrafa? Por que compartilha comigo essas fotos de uma desconhecida? Mas as fotos são boas! São muito boas! Quem é essa mulher, Maninha? É Vivian Maier. Isa vai me mandar o doc que fizeram sobre ela e eu passo uma cópia pra você. E já comprei o livro com os autorretratos, quer ver? Ah! Essa amiga generosa a compartilhar tesouros. Gratidão sem tamanho!
ExcluirGostei tanto desse seu jogo, que adoraria que vc pensasse um ateliê de dramaturgia nos propondo essas intersecções. Quero mais devaneios
ResponderExcluirAnotado, Débora! Um beijão e obrigada pela visita.
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