sexta-feira, 24 de julho de 2015

Dia: Beacon - John Chamberlain - I




John Chamberlain "Daddy in the dark" - 1988
(Foto: Adélia Nicolete)




























Na postagem anterior, demos início a um relato sobre o Dia: Beacon, no Estado de Nova York. A partir de agora, comentaremos alguns dos artistas de sua coleção. O primeiro deles é o escultor John Chamberlain (1927 – 2011), que ocupa uma das maiores áreas do museu.

Chamberlain nasceu em Rochester, Indiana. No início dos anos 1950 estudou no Instituto de Arte de Chicago e, na mesma década, estudou e lecionou escultura no Black Mountain College, na Carolina do Norte. 


John Chamberlain "Daddy in the dark" (detalhe)  - 1988
(Foto: Adélia Nicolete)



















John Chamberlain "Daddy in the dark" (detalhe)  - 1988
(Foto: Adélia Nicolete)


















Sua primeira escultura utilizando sucata de carros, Shortstop, foi criada em 1957, um ano após a mudança para Nova York, onde desenvolveu seu trabalho artístico até os anos 1980, quando mudou-se para a Flórida, em busca de mais espaço para suas criações monumentais.

Não por acaso o artista escolheu despojos automobilísticos como matéria prima. Quando iniciou a carreira, os Estados Unidos eram responsáveis pela maior parte da produção de veículos, tendo a cidade de Detroit o título de capital mundial do automóvel - desbancada décadas depois graças à concorrência japonesa. Tratar artisticamente os descartes da sociedade industrial passou a ser a principal pesquisa de Chamberlain.


John Chamberlain - "Voyage en douce" - 1980-81
(Foto: Adélia Nicolete)



John Chamberlain - "Voyage en douce" (outro ângulo) - 1980-81
(Foto: Adélia Nicolete)






















John Chamberlain - "Voyage en douce" (outro ângulo) - 1980-81
(Foto: Adélia Nicolete)























Chamberlain realizou, já em 1960, a primeira grande exposição individual. A primeira retrospectiva veio dez anos depois, no Museu Guggenheim, e foi repetida em 2012.

As obras expostas no Dia: Beacon foram criadas a partir de várias formas de intervenção em placas metálicas de automóveis e outros veículos. Em muitas delas, o artista conserva a cor original e trabalha corte, fixação, torção, amassadura, trituração, cravação, etc. Em outras, aplica tintura, grafite, relevos, desbaste.

Na obra Daddy in the dark, figurada no início da postagem, seu objetivo foi operar de tal forma no material, tornando a escultura tão orgânica quanto possível, a fim de que não se percebesse sua origem. Em Voyage en douce, por outro lado, como na maioria dos trabalhos, sua intenção foi manter as características da peça descartada, de modo que pudesse ser identificada pelo público: a lateral de um táxi ou de uma viatura policial, a traseira de uma ambulância, o chassi ou o capô de um modelo específico e assim por diante.


John Chamberlain - "Norma Jean Risen" - 1967-84
(Foto: Adélia Nicolete)



























John Chamberlain - "Norma Jean Risen" (detalhe) - 1967-84
(Foto: Adélia Nicolete)


John Chamberlain - "Norma Jean Risen" (outro ângulo) - 1967-84
(Foto: Adélia Nicolete)























Ao dar título a suas esculturas, John Chamberlain recorre, muitas vezes, à poesia – uma de suas paixões e inspirações.  Pode não haver relação direta entre a peça e o título, ou seja, ele não é referencial ou descritivo, tanto que muitos  deles foram escolhidos por sorteio, por livre associação, como o da peça abaixo - "Luftschloss": "Castelos no ar".


John Chamberlain - "Luftschloss" - 1979
(Foto: Adélia Nicolete)


John Chamberlain - "Luftschloss" (detalhe) - 1979
(Foto: Adélia Nicolete)






















John Chamberlain - "Luftschloss" (detalhe) - 1979
(Foto: Adélia Nicolete)



Visão geral de parte do espaço dedicado a John Chamberlain no museu Dia: Beacon
(Foto: Adélia Nicolete)



Há dez esculturas de John Chamberlain em Dia: Beacon. Na próxima postagem publicaremos as restantes - clique em cada imagem para vê-las ampliadas.

Maiores detalhes sobre a trajetória do artista podem ser encontrados no site do museu, mencionado na postagem anterior.


Adélia Nicolete


domingo, 19 de julho de 2015

Dia: Beacon - Riggio Galleries


Fachada do prédio que abriga as Riggio Galleries do Dia: Beacon
(Foto: internet)


Dia: Beacon é uma das unidades da Dia Art Foundation, instituição sediada em Nova York e dedicada a financiar, promover, apresentar e conservar obras de arte contemporânea e performances, além de fomentar o diálogo crítico. Seu objetivo inicial foi suprir uma lacuna surgida a partir dos anos 1970 com relação a financiamentos de trabalhos de caráter efêmero, site-specific ou de grandes proporções. 

Uma outra unidade funciona em Chelsea e há obras e instalações distribuídas dentro e fora da cidade, em locais diversos.



Vista aérea do local, com rio Hudson à direita
(Foto: internet)




















Beacon, à beira do rio Hudson, é a cidade onde, em 1929, a Nabisco começou a fabricar as embalagens de seus produtos. Desativada, em 2003 a fábrica de 22 mil m² deu lugar a um dos maiores museus do país, o Dia: Beacon. A área total do terreno é de 13 hectares e inclui um parque beira-rio. 



Espaço do artista Richard Serra
(Foto: Adélia Nicolete)




















O prédio recebeu o nome de seu principal financiador, o empresário Leonard Riggio. As chamadas Riggio Galleries são espaços projetados especialmente para cada artista e a iluminação natural, em permanente diálogo com as obras, é garantida pelas janelas e claraboias.


Espaço do artista On Kawara
(Foto: Adélia Nicolete)

É curioso imaginar a "dramaturgia" do Museu. Os critérios utilizados para a distribuição dos artistas e das obras, bem como da circulação do público e o tipo de informação que ele recebe na entrada de cada sala. Lembra um espetáculo processional, daqueles em os espectadores dirigem-se para a cena que lhes interessa e estabelece uma sequência particular. *

Podemos imaginar o tipo de sensação pretendida pela curadoria: o impacto das obras gigantescas, seguido pelo espaço sem paredes dos trabalhos ao rés do chão ou de fosso. A distância entre as peças, aquelas que podem ser vistas logo que se chega ao topo da escada e aquelas que já podem ser vislumbradas no fundo da galeria. Louise Bourgeois, por exemplo, está no primeiro andar, num pavilhão só dela. O silêncio, o avermelhado das paredes e o piso de cimento queimado, bem como a distância considerável entre as peças, provoca uma atmosfera minimalista e quase meditativa.



Crouching Spider - Louise Bourgeois - 2003
(Foto: Bia Borin)


Parte da galeria destinada ao acervo de Louise Bourgeois
(Foto: Adélia Nicolete)







Enfim, um espaço expositivo tem outras funções além do abrigo dos materiais. Uma delas é agir sobre e com o visitante/espectador, assim como faz a dramaturgia, rumo à criação de um sentido.


O museu também conta com um bosque de árvores frutíferas e jardins planejados, onde eventualmente podem ser instaladas algumas obras, tais como a instalação sonora de Louise Lawler. Intitulado Birdcalls, o trabalho realizado entre 1972 e 1981, reúne ruídos vocais de Joseph Beuys, Sol Lewitt, Cy Twombly, Andy Warhol, entre outros artistas e convidados, que remetem a pássaros.

Jardim reservado à proposta de Louise Lawler
(Foto: Adélia Nicolete)


Jardim à entrada das Galerias Riggio
(Foto: Adélia Nicolete)


Jardins atrás das Riggio Galleries
(Foto: Adélia Nicolete)



















Ao longo das próximas postagens, comentarei sobre alguns dos artistas expostos no Dia: Beacon, assim como outras informações acerca do local. Em caso de interesse imediato, sugiro consultar o site da fundação  aqui.



Adélia Nicolete


 * Um ótimo exemplo desse tipo de espetáculo pode ser encontrado na seguinte postagem.