Conheci
Luis Alberto de Abreu no final da década de 1980, num curso de dramaturgia que
ele oferecia nas Oficinas Culturais Três Rios, em São Paulo. Uma série de
fatores fez com que eu desistisse das aulas e tornasse a encontrá-lo somente em
1996, dessa vez em Santo André. Fui sua aluna por alguns anos e posso dizer
que, mais do que elaborar textos de teatro, suas aulas nos tornam pessoas
melhores. Estudos de psicologia, mitologia, trajetórias heróicas fazem-nos
refletir sobre o mundo, sobre a nossa própria vida, nosso próprio caminho.
Nas
conversas que tivemos para este livro me convenci ainda mais da sua extrema
coerência. Abreu é do tipo que age conforme o que proclama. Pode parecer meio
tolo dizer isso, mas, hoje em dia, quantas pessoas se comportam assim? A
maioria de nós fala muitas coisas sábias e profundas, mas, na hora de agir, faz
justamente o contrário do que apregoa. Ele traz o conhecimento mítico para a
própria vida, para o relacionamento familiar, para a compreensão do outro e do
mundo.
Pode-se
dizer que é uma pessoa muito séria. À primeira vista parece bravo. Nesse
depoimento vamos descobrir que talvez isso se deva à sua timidez – ou à
descendência de garimpeiros e de um lobisomem! Com o correr do tempo, porém,
ele vai se mostrando afável e engraçado, embora sempre mantenha a fera nas
entrelinhas. A mesma fera que o impele a novos trabalhos, a não se deitar sobre
possíveis louros, a não dar crédito exagerado aos elogios. Conforme diz, só ele
sabe o quanto penou para escrever um texto e nenhum louvor garante que o
próximo trabalho será fácil.
Nas
entrevistas não falou, mas Abreu é corinthiano, joga capoeira e adora cuidar de
flores - orquídeas, mais especificamente. E é um ótimo cozinheiro: comida
italiana, árabe e japonesa estão entre as suas especialidades. Estrutura um
prato como estrutura suas peças: separa todos os ingredientes primeiro, coloca
em ordem de entrada na panela e só depois é que começa o preparo. Nessa hora
ele também não abre mão da invenção, acrescentando outros sabores, não se
contentando com a mera reprodução de uma receita...
Abreu
coloca amor e capricho em tudo o que se mete a fazer. Diz que herdou isso do
pai. Da mãe, brava como o quê, herdou o prazer de ouvir e contar histórias –
reais ou fantásticas, pouco importa. Talvez venha daí a facilidade pra contar
enredos de livros, peças e filmes com tanta riqueza de detalhes que parece
estarmos lendo ou assistindo junto com ele.
Achei que
seria fácil conseguir entrevistá-lo. Não foi. A agenda sempre lotada de cursos,
palestras, reuniões, novos textos, direcionaram nossas conversas aos intervalos
entre as diversas atividades ou ao fim de noite. Os filhos, curiosos, queriam
saber porque o pai estava gravando tudo aquilo sobre o seminário dos padres, os
ensaios com gente pelada, os momentos em que pensou em desistir da dramaturgia.
Queriam saber sobre o momento em que entrariam no livro. Afinal, são quatro
filhos – cada um esperando a sua vez de entrar em cena! E ao falar sobre isso
Abreu se emociona, a mesma emoção com que fala do convívio com o pai, da morte
da mãe; com que fala dos amigos e das inúmeras experiências agradáveis que o
teatro lhe proporcionou ao longo da vida.
Muito me
ajudaram outras fontes de informação tais como notícias de jornais e revistas,
leitura de suas peças, e a tese de doutoramento elaborada por Rubens Brito a
respeito de sua obra. Amigos e ex-alunos mandaram perguntas via internet –
Elaine, Ana Régis e Alex, em especial. As reuniões constantes com os amigos
ofereciam outras versões de alguns fatos, e os irmãos do entrevistado serviram
de fiel da balança em relação aos acontecimentos anteriores a seu nascimento.
Portanto, agradeço a todo mundo que entrou na dança junto conosco pra fazer
esse livro acontecer.
Que ele
seja prazeroso a todos como foi para mim escrevê-lo. Prazeroso como a leitura
dos textos de Luís Alberto de Abreu (...)
Lançamento do livro na Mostra Internacional de Cinema - SP - 2004 (Foto: Nádia Margonari de Abreu) |
É possível fazer download gratuito do livro ao acessar o link:
http://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.812.960/12.0.812.960.pdf