Fachada da Casa de Cultura Tim Lopes (Foto: Adélia Nicolete) |
A
utilização de recursos literários para a escrita memorialística foi o tema
principal do Ateliê de Memórias, conduzido no dia 26 de setembro na Casa de
Cultura Tim Lopes, em São José dos Campos.
Todos
nós, em alguma circunstância, nos utilizamos da escrita para registros de
momentos de nossa vida. Agendas e diários são exemplos clássicos desse tipo de texto.
Utilizados como pura forma de expressão ou simples anotações, não objetivam o
compartilhamento e, portanto, prescindem de tratamento literário. Ao pretendermos
a comunicação desses escritos aos leitores de modo a diverti-los, emocioná-los
ou convidá-los a conhecer um pouco mais sobre nossa história (de nossa
família, comunidade ou até de um animal de estimação*, etc), faz-se necessária uma série de elementos, todos eles
utilizados também na ficção.
Atividade escrita (Foto: Adélia Nicolete) |
É como
se, diante do material disponível que é a nossa vida ou uma fatia dela, nos tornássemos
um Autor diante de Outro ser, cuja história trataríamos de narrar.** Esse Autor
lançaria mão de recursos tais como organização e encadeamento dos fatos e ações;
suspense e criação de expectativa em certas ocasiões, metáforas e imagens
poéticas em outras. Ele daria um colorido ainda mais cômico a passagens engraçadas
e poderia trabalhar um ritmo vertiginoso em trechos de aventura. Fatos
excepcionais poderiam ganhar tons que os tornassem mais fantasiosos e o que
misterioso fosse, ganharia ares de Filosofia.
Por vezes lembramos de passagens de nossa vida com tantos detalhes, que as recriamos em imagens, sons, cheiros, sabores e outras sensações físicas. O Autor pode transmitir esses e outros detalhes em seu texto, a fim de convidar o leitor para senti-los como nós os sentimos. ***
Por vezes lembramos de passagens de nossa vida com tantos detalhes, que as recriamos em imagens, sons, cheiros, sabores e outras sensações físicas. O Autor pode transmitir esses e outros detalhes em seu texto, a fim de convidar o leitor para senti-los como nós os sentimos. ***
Atividade escrita (Foto: Adélia Nicolete) |
A pesquisa é outra grande aliada quando se quer tornar o texto memorialístico ainda mais interessante.**** Dados históricos, hábitos e expressões de época, por exemplo, são capazes de provocar grande empatia no público leitor.***** São dados que se prestam, inclusive, a preencher lacunas ou a justificar ações e comportamentos citados na narrativa.
Ao criar um Narrador para a nossa história, o Autor poderia propor a narrativa em primeira pessoa, fechada nas próprias lembranças ou, por que não, um diálogo direto com o leitor, tornado cúmplice.
Jogo de cartas utilizado para a criação dos textos |
Logo após a explanação teórica, foi proposto um jogo a fim de estimular a memória, a criatividade e a atividade escrita. A partir do sorteio individual de três cartas, cada uma delas contendo um “quem”, um “quando” e um “o que”, os participantes trataram de lembrar-se de alguma situação de sua vida ou de alguma história conhecida que envolvesse os três disparadores. Em seguida, organizaram e escreveram suas narrativas, levando em conta, se possível, os recursos literários discutidos previamente.
Atividade escrita (Foto: Adélia Nicolete) |
Agradeço
a todos os escrevedores pela presença e pelas memórias compartilhadas, à Erika, Poliana e Claudiomar da Casa de
Cultura pelo convite e pela recepção, e ao Wangy Alves que, mesmo ausente, esteve presente.
* Como exemplo, indicamos a leitura e "Flush - biografia de um cão", de Virginia Woolf
** Sobre o tema, consultar o capítulo sobre Biografias em "Estética da criação verbal", de Mikhail Bakhtin
*** Citamos, nessa altura, "Seis propostas para o próximo milênio", de Ítalo Calvino
**** Citamos como exemplo a pesquisa realizada por José de Souza Martins para a realização de seu livro autobiográfico "Uma arqueologia da memória social"
***** Recomendamos a leitura de "Nu, de botas", relatos da infância de Antonio Prata
* Como exemplo, indicamos a leitura e "Flush - biografia de um cão", de Virginia Woolf
** Sobre o tema, consultar o capítulo sobre Biografias em "Estética da criação verbal", de Mikhail Bakhtin
*** Citamos, nessa altura, "Seis propostas para o próximo milênio", de Ítalo Calvino
**** Citamos como exemplo a pesquisa realizada por José de Souza Martins para a realização de seu livro autobiográfico "Uma arqueologia da memória social"
***** Recomendamos a leitura de "Nu, de botas", relatos da infância de Antonio Prata
Adélia Nicolete
Trabalho lindo, Adélia!
ResponderExcluirParabéns a vocês e a todos os participantes.
um abraço!
Giuli! Você por aqui! Que alegria!
ExcluirObrigada pela visita e pelo comentário. Sim, foi uma tarde bem gostosa e, espero, o Ateliê possa animar a todos na escrita de suas memórias.
Abraços mil pra ti também.
Um forte abraço... igual ao do sonho!! ;)
ResponderExcluirPra ti também, Ju! Obrigada!
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