“Quando será que essa dramaturgia vai ficar
pronta? Quando será que vamos parar de reescrever
esta cena? Algum dia esse roteiro vai
ficar bom? O prazer de trabalhar com dramaturgos
antigabinetes, antitorres-de-marfim.
Generosos e arrojados. Sem preguiça de
ouvir as necessidades que nascem na sala de
ensaio, sem pudor de jogar seu texto fora se a
cena assim o pedir. Dramaturgos que abdicam
da eternidade em prol de uma escrita tão
fugaz e temporária como a dos atores e diretores.”
Antônio Araújo
Até os princípios do século XX, era impensada uma colocação como
essa, feita pelo diretor do Teatro da Vertigem em um texto em que ele pretendeu
reportar, à maneira da escrita surrealista, o denominado processo colaborativo de
trabalho nos espetáculos da Trilogia Bíblica do grupo.
Durante muito tempo o texto foi considerado o elemento mais
importante do teatro e o autor teve o domínio de conteúdo, forma e sentido. Dessa
maneira, como encenar uma peça que ainda não fora escrita por completo? Para quê dar ouvidos
a atores, se eram encarados como simples emissores do texto? Dar voz ao
diretor, se sua missão era cumprir ‘fielmente’ as prescrições de um autor que,
na quase totalidade dos casos, escrevia a peça concentrada e solitariamente,
acalentando o sonho nada secreto de ser eternizado pela literatura?
Têm pouco mais de um século os primeiros questionamentos da
autoridade do texto e do autor. Os diretores foram assumindo cada vez mais sua posição
como criadores do espetáculo, chegando mesmo a ‘depor’ o texto em nome da
encenação, e o ator também pôde conquistar uma outra posição que não a de mero executante
de idéias alheias – tanto que, por volta dos anos 1960, chegou-se a afirmar o
corpo contra o texto. Numa época em que ao ator começou a caber grande parcela
da criação, a equipe como um todo ganhou destaque e passou a se encarregar da
elaboração do espetáculo, desde a idéia original até a finalização. Havia,
segundo Pavis, um “clima sociológico” favorecendo que o autor, antes
individual, passasse a corresponder ao coletivo do grupo2 – ganhando destaque a
chamada criação coletiva, vista por muitos como a precursora do processo
colaborativo. Sílvia Fernandes afirma que há semelhanças entre os dois
procedimentos, mas que eles não chegam a se confundir (Fernandes, 2002, p. 36).
O fato é que em ambos o dramaturgo desceu, finalmente, de sua torre de marfim e foi para
a sala de ensaio.
Para ler o artigo em pdf, na íntegra (8 páginas), basta acessar o link abaixo:
http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57109
artigo publicado na revista sala preta v. 2, de 2002
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