terça-feira, 22 de julho de 2014

Teatro da Conspiração às portas do 30º aniversário

                                       


Cena do espetáculo "Dassanta" - 2010
Dramaturgia e Direção de Solange Dias
Foto: Felipe Veríssimo


Nossas referências sobre o teatro no ABC muito se devem às pesquisas e publicações de Paschoalino Assumpção e José Armando Pereira da Silva. Foi por meio deles que pudemos entrar em contato com as origens operárias do teatro feito em nossa região, bem como seu desenvolvimento até meados dos anos 1960. O que ocorreu depois disso, e foram muitas e variadas manifestações, ainda carece de registro.

Para ficarmos circunscritos a Santo André, podemos citar os festivais de teatro amador que, retomados nos anos 1980 e encerrados na década seguinte, atendiam a demanda dos grupos que, pouco a pouco, aumentavam em número e, já sob influência do teatro feito em São Paulo, propunham inovações temáticas e formais. Os centros de cultura nos bairros, o trabalho de Augusto Boal com os artistas da cidade, as EMIAS (escolas municipais de iniciação artística), a criação da Escola Livre de Teatro são também algumas das experiências à espera de registro adequado.

Dos grupos amadores surgidos nos anos 1980 dois, nascidos em espaços escolares, geraram o Teatro da Conspiração. Um deles foi o TeHOR Movimento Artístico, formado em 1985 por alunos da FATEA (Faculdades Integradas Teresa D'Ávila, hoje FAINC), o outro foi o Içué de Talhe, formado por alunos do Colégio Singular. Anos depois, alguns componentes dos dois grupos se uniram e formaram um terceiro, o Póstumo e Diluto, que atuou até meados dos anos 1990. Com a dissolução do grupo, uma parte dos artistas formou o Teatro do Abaporu, que passou a atuar tanto na cena quanto em trabalhos pedagógicos junto às comunidades andreenses.

O sonho de ter seu trabalho reconhecido por um maior número de espectadores levou muitos artistas e grupos a migrarem para São Paulo, como, aliás, o fizeram artistas de gerações passadas. Não foi diferente com o Teatro do Abaporu, que desenvolveu espetáculos na capital, mas acabou retornando a Santo André nos anos 1990. Nesse retorno, remanescentes do grupo se uniram a alunos da FATEA, das oficinas culturais e da ELT para a montagem de Partida, de Luís Carlos Leite, dando origem ao Teatro da Conspiração, no ano 2000.

Na atuação do grupo podem ser identificados elementos já presentes nos trabalhos dos anos 1980: dramaturgia autoral e pesquisa formal, agora aliadas à temática  histórica, em Geração 80 e Tito, e social, em Partida e Cantos periféricos. Dois  desses textos já foram publicados. Outros dois foram tema de mestrado na USP e na UNICAMP.

A partir de 2004, o Teatro da Conspiração retoma seu caminho pedagógico e inicia uma segunda vertente de atuação, o Teatro da Transpiração, projeto desenvolvido no Parque Escola de Santo André. O local que antes era dedicado tão somente às atividades botânicas passa a ser frequentado aos domingos por jovens atores que, aos poucos, trazem para este lado da cidade um número cada vez maior de espectadores e inauguram um novo espaço teatral na comunidade.

O grupo chega a 2010 com novas montagens, núcleos independentes e o mesmo espírito que o acompanha desde suas origens, 25 anos atrás: o espírito amador e artesanal. Amador porque realizado sem patrocínio, sem fomento, quase sempre de forma cooperativada. Artesanal porque feito com paixão, sem os ditames do mercado e apesar do pessimismo que volta e meia decreta o fim ou a inviabilidade desse tipo de trabalho.


Um teatro de qualidade que está indissoluvelmente ligado à evolução das artes cênicas na região e ao qual muito me orgulho de também estar indissoluvelmente ligada.        Viva!   



2014 - 10 anos do Teatro da Transpiração
29 anos do Teatro da Conspiração


(Texto publicado originalmente pelo grupo em 2010)

http://teatrodaconspiracao.blogspot.com.br/

maiores informações sobre artistas e grupos  do período podem ser encontradas em
http://aoentretempos.blogspot.com.br/

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