J.M.W.Turner - Autorretrato Óleo sobre tela |
Faz algumas décadas que a
Cultura Inglesa encara o teatro como um importante aliado no ensino-aprendizado
da língua, tanto que, atualmente, cerca de 2.500 alunos estão distribuídos em aproximadamente
130 grupos a ocupar as unidades da escola.
Para o trabalho com as mais diferentes faixas etárias, são contratados os chamados ensaiadores – profissionais de áreas diversas, com fluência em inglês e que recebem apoio pedagógico a fim de ensaiarem e produzirem espetáculos curtos ao final de cada período. Além disso, uma vez por ano, a instituição promove o Drama Festival com atuação, produção e direção de alunos, ex-alunos e professores. Ambas as iniciativas envolvem milhares de pessoas entre artistas, técnicos e público.
Para o trabalho com as mais diferentes faixas etárias, são contratados os chamados ensaiadores – profissionais de áreas diversas, com fluência em inglês e que recebem apoio pedagógico a fim de ensaiarem e produzirem espetáculos curtos ao final de cada período. Além disso, uma vez por ano, a instituição promove o Drama Festival com atuação, produção e direção de alunos, ex-alunos e professores. Ambas as iniciativas envolvem milhares de pessoas entre artistas, técnicos e público.
Sob a coordenação artística do
ator Laerte Mello e a coordenação pedagógica do diretor Francisco Medeiros, a
equipe de ensaiadoras e ensaiadores reúne-se periodicamente para estudos, troca de ideias e
supervisão dos trabalhos. A partir das demandas levantadas, busca-se o
aperfeiçoamento em determinada área. Neste ano de 2017 o foco é a Dramaturgia
e, para fomentá-la junto ao grupo, foram convidados profissionais a fim de
ministrar workshops. O Ateliê de Dramaturgia foi uma dessas atividades e o artista plástico escolhido para motivar a escrita foi o inglês J.M.W. Turner (1775-1851).
J.M.W. Turner - Geleira e nascente do Arveron elevando-se para o Mar de Glace - 1803 - Aquarela 68,5 x 101,5 cm |
Por se tratar de um grupo de
artistas-pedagogos, consideramos que não bastaria uma vivência de Ateliê, mas também
uma abordagem mais detida nos procedimentos a fim de que se pudesse relacioná-los à prática junto às turmas de teatro. Outra preocupação foi pensar nos exercícios do Ateliê especificamente na na aquisição e/ou
aperfeiçoamento de língua estrangeira.
Para tanto, iniciamos o trabalho com uma visão panorâmica do processo descrito em minha tese de doutoramento para, somente depois, realizarmos o exercício de escrita, ele também vivenciado e pensado sob dois aspectos: o do participante da turma de teatro (aluno de inglês) e o do ensaiador/condutor da proposta. *
Para tanto, iniciamos o trabalho com uma visão panorâmica do processo descrito em minha tese de doutoramento para, somente depois, realizarmos o exercício de escrita, ele também vivenciado e pensado sob dois aspectos: o do participante da turma de teatro (aluno de inglês) e o do ensaiador/condutor da proposta. *
J.M.W.Turner - Petworth: o artista e seus admiradores - 1830 Guache sobre papel azul - 14 x 18,9 cm |
Mike Leigh - cena do filme Mr. Turner - 2014 em que se reproduz guache de Turner |
A escolha de Turner como
artista disparador do processo de escrita justifica-se pela numerosa produção em técnicas
diversas e com abordagens que vão do figurativo ao conceitual. Sendo assim, seu
trabalho pode ser apreciado por todas as idades, independente das preferências estéticas, e estimular a criação de textos
que percorram a forma dramática, bem como outras escritas verbais e cênicas
descoladas do drama.
Tais características atendem ao perfil dos ensaiadores e ensaiadoras no que diz respeito às suas próprias pesquisas formais. Para tanto, a obra de Turner pode ser usada como referência inicial a ser dispensada em seguida, mas pode igualmente suscitar a hibridização, bastante presente na cena atual.
Tais características atendem ao perfil dos ensaiadores e ensaiadoras no que diz respeito às suas próprias pesquisas formais. Para tanto, a obra de Turner pode ser usada como referência inicial a ser dispensada em seguida, mas pode igualmente suscitar a hibridização, bastante presente na cena atual.
Após a apreciação individual
da obra Tempestade de neve...,
partiu-se para a fruição coletiva guiada por estímulos da condutora. Diante da tela projetada, inquiriu-se sobre emoções, sensações, lembranças, imagens, ideias e impressões em geral. O
objetivo, além do levantamento de um repertório comum a todos (pressuposto do
Ateliê) foi o reconhecimento da amplitude vocabular possível de ser
desenvolvida numa atividade como essa. Por exemplo, ao buscar e identificar em si uma emoção
despertada pela tela e mais, ao justificar essa identificação, espera-se que o aluno-ator de
um curso de línguas possa integrar o uso do idioma a aspectos não somente
instrumentais, mas internos.
O contato com artistas britânicos, por sua vez, estende o alcance da atividade para além do teatro e alcança a formação cultural do aprendiz. Se lembrarmos que os procedimentos do Ateliê de Dramaturgia podem ser utilizados para a apreciação de qualquer outra linguagem, o campo de ação e de formação fica ainda maior.
A apreciação em si já se constitui importante etapa criativa - momento em que se estabelecem conexões as mais diversas - pictóricas, literárias, cinematográficas, musicais, etc - se realiza o levantamento de referências, em que o imaginário se amplia para além da obra observada. Daí a sugestão de que fruição e escrita se dêem num mesmo encontro a fim de que o fluxo da criação não seja interrompido.
O contato com artistas britânicos, por sua vez, estende o alcance da atividade para além do teatro e alcança a formação cultural do aprendiz. Se lembrarmos que os procedimentos do Ateliê de Dramaturgia podem ser utilizados para a apreciação de qualquer outra linguagem, o campo de ação e de formação fica ainda maior.
J.M.W.Turner - Colour beginning, 1819 Aquarela, 22,5 x 28,6 cm |
Mark Rothko - Sem título, 1955 Óleo sobre tela |
A apreciação em si já se constitui importante etapa criativa - momento em que se estabelecem conexões as mais diversas - pictóricas, literárias, cinematográficas, musicais, etc - se realiza o levantamento de referências, em que o imaginário se amplia para além da obra observada. Daí a sugestão de que fruição e escrita se dêem num mesmo encontro a fim de que o fluxo da criação não seja interrompido.
Por isso, constituído
o repertório comum de materiais, chegou a hora de definir os delimitadores da
escrita. Ao contrário do que se supõe, os delimitadores são libertadores na medida em que permitem um recorte à criação. Não fosse assim, correríamos o risco de ficar paralisados frente ao infinito de possibilidades.
Propôs-se, então, o sorteio de formatos breves – cartas, depoimentos, diários, poesias, diálogos, adaptações, etc – a serem escritos em um tempo determinado, individual ou coletivamente, dentro ou fora da sala.
Propôs-se, então, o sorteio de formatos breves – cartas, depoimentos, diários, poesias, diálogos, adaptações, etc – a serem escritos em um tempo determinado, individual ou coletivamente, dentro ou fora da sala.
Parte do grupo em processo de escrita |
No Ateliê, cada corpo escolhe como quer escrever |
Concluído o tempo para a
escrita, o grupo reuniu-se novamente a fim de ler os materiais criados e pensar
possibilidades de utilização junto aos grupos sob sua orientação. A ideia de
uma dramaturgia rapsódica pareceu-nos a mais indicada nesses casos e, para
isso, nos debruçamos sobre a semelhança entre os processos criativos em
dramaturgia e em artes plásticas. Em outras palavras, recursos tais como seleção,
composição, recorte, colagem, montagem, fragmentação, justaposição, repetição e outros mais, mostram-se bastante adequados à lida com as materialidades
em ambas as áreas.
Durante
todo o processo, buscamos oferecer referências para que os ensaiadores possam
aprofundar o que foi tão somente apontado nas quatro horas do Ateliê.** Esperamos
que a experiência, necessariamente condensada, possa gerar um sem número de
outras ações, a depender da criatividade e do interesse de cada um/a.
Agradeço
a Francisco Medeiros e a Laerte Mello pelo convite e aos ensaiadores e
ensaiadoras pela disponibilidade para o Encontro – consigo mesmos, com o Outro
e com a escrita. Conhecer, fruir e fazer arte coletivamente em meio a esse caos em que nos encontramos soa como experiência de sanidade e ato de resistência.
Adélia
Nicolete
J.M.W.Turner - Navio incendiado (?) - circa 1826-30 Aquarela, 33,8 x 49,2 cm |
J.M.W.Turner - Navios no mar - circa 1835-1840 Aquarela, 22,2 x 27,9 cm |
* A tese de doutorado "Ateliês de Dramaturgia: práticas de escrita a partir da integração artes plásticas, texto e cena" pode ser baixada nessa página.
* Um artigo de Jean-Pierre Sarrazac a respeito de Oficinas de Escrita Dramática pode ser acessado aqui.
** Um vídeo curto com o cineasta Mike Leigh a respeito de cenas da obra de Turner presentes em seu filme "Mr. Turner", pode ser acessado aqui.
* Um artigo de Jean-Pierre Sarrazac a respeito de Oficinas de Escrita Dramática pode ser acessado aqui.
** Um vídeo curto com o cineasta Mike Leigh a respeito de cenas da obra de Turner presentes em seu filme "Mr. Turner", pode ser acessado aqui.
** A coleção de obras de Turner no Tate Britain pode ser acessada aqui.
** A abertura da ópera "O navio fantasma" de Richard Wagner, autor citado durante a apreciação, pode ser ouvida aqui:
** Mais exemplos de ações em Ateliês de Dramaturgia podem ser acessados nesse blog.
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