Participantes em ação (Foto: Adélia Nicolete) |
Concluímos na última quinta-feira mais um Ateliê de Memórias,
dessa vez dedicado à Casa e ao Feminino. Foram sete os encontros, cada um deles
dedicado a um aspecto do tema, dentre a infinidade de abordagens possíveis. Em termos formais, nosso foco foi a estruturação.
Na primeira sessão refletimos sobre os opostos
complementares, dentre eles, o masculino e o feminino, a casa e a rua. A árvore
foi nossa imagem geradora e o desenho, a escrita inicial, pré-verbal. A partir
daí, iniciamos nossos estudos sobre a estrutura do texto e as articulações
entre passado, presente e futuro.
O segundo encontro foi dedicado às miudezas do trabalho feminino,
bem como às conversas que embalam as manualidades – a roda de labor manual e relato
oral. Como prática trabalhamos com linha e agulha na elaboração de fuxicos que
nos levaram a outro tipo de estruturação escrita, "de fora para dentro" - tanto no sentido espacial quanto temporal.
(Foto: Elaine Bombicini) |
Um percurso pela casa ancestral foi o desafio da terceira
sessão, momento que tomamos pela mão o leitor e o guiamos pelas nossas
lembranças. O autor/narrador definiria ou não seu possível interlocutor num estrutura que parte do presente e da rua a fim de embrenhar-se pela casa e suas memórias.
Na dinâmica dos Atelies de Escrita, em cada um dos encontros os textos são lidos e, na medida
do tempo, analisados pelo grupo. Vez ou outra faz-se necessária uma parada especificamente
dirigida às análises, o que ocorreu no quarto dia. Como os Ateliês seguem o
princípio do “fazer para aprender”, são justamente os comentários sobre os
exercícios – tanto do ponto de vista de quem escreveu quanto de quem ouviu – que
suscitam as reflexões teóricas e sua explanação por parte do condutor ou de um colega: a desierarquização de funções é outra prerrogativa da proposta.
(Foto: Elaine Bombicini) |
O quinto encontro foi dedicado às experiências estéticas
femininas no lar, desde o exercício diário de estender a roupa de modo ordenado, passando pela composição de um prato e pela mesa bem posta para as refeições, por exemplo, até a criação de artesanias. Após o levantamento de testemunhos e exemplos, cada participante foi
estimulado a expor algum tipo de peça artesanal de sua predileção e afeto. Na
sequência, deveria escrever um texto que tramasse a obra à sua criadora e às experiências estéticas por ela efetivadas.
A fotógrafa norte-americana Vivian Maier foi a inspiradora
de nosso sexto encontro. Após assistir ao filme “Procurando Vivian Maier” e
observar algumas de suas produções, além de se debruçar sobre um texto histórico,
o grupo discutiu sobre a relação da mulher com a rua. A ideia era falar sobre mulheres que transgrediram padrões e, a partir do levantamento de dados, estruturar um retrato.
Finalmente, a sexta pauta teve como motivação os
depoimentos de Estamira, uma ex-catadora de lixo no Rio de Janeiro cuja “filosofia”
em muitos aspectos se assemelha à de Riobaldo, personagem de “Grande serão:
veredas”, de Guimarães Rosa, e à de tantos outros cuja sabedoria advém da experiência
cotidiana. Assistimos ao documentário dedicado a ela, discutimos e, a seguir, refletimos todos sobre o que denominamos nossa “casa impalpável”
porque construída de valores, hábitos, exemplos, máximas ouvidas em famílias de
sangue ou de coração - a "filosofia" que construímos a partir de nossas relações mais próximas. O depoimento resultante deveria falar sobre isso.
Deu-nos suporte uma série de filmes, contos, poemas e textos
teóricos, aos quais nos reportamos, utilizamos como farol ou aprofundamos nossa
experiência literária. Assim, contamos com os estudos de Gaston Bachelard, José de Souza Martins, Maria Lúcia Mott e Roberto DaMatta e também com a fruição de Garcia Marquez, Julio Cortázar, Lygia Fagundes Telles, Dalila Teles Veras, Tarso de Melo, Sérgio Faraco, Adélia Prado, Ana Miranda e vários outros.
Cada uma das sessões foi, portanto, um Encontro com a própria escrita e com as escritas alheias, um Encontro com o Outro e também conosco mesmos, com a nossa história pessoal e coletiva. Momentos confessionais, por vezes emocionados, quase sempre engraçados e, sobretudo, de intensa cumplicidade.
Cada uma das sessões foi, portanto, um Encontro com a própria escrita e com as escritas alheias, um Encontro com o Outro e também conosco mesmos, com a nossa história pessoal e coletiva. Momentos confessionais, por vezes emocionados, quase sempre engraçados e, sobretudo, de intensa cumplicidade.
(Foto: Marilei Barçalobre) |
Agradeço à direção da FAINC (Santo André) por mais essa Extensão
Universitária aberta aos Ateliês de Memórias. Agradeço a cada um/a do/as
participantes pela confiança de embarcar nessa nau que viaja ao sabor do grupo
e suas demandas. Espero nos encontrarmos em breve em outros e ainda melhores roteiros.
Adélia Nicolete
É sempre uma dádiva participar destes ateliês, os quais resgatam nosso passado e por meio da escrita possibilitam-nos compreender melhor o presente! Obrigada, Adélia, obrigada amigos de ateliê por tanta troca e cumplicidade!!!
ResponderExcluirClaudinha, dádiva também é tê-la conosco e perceber a trajetória dos seus textos - e a nossa - durante todo esse tempo.
ExcluirSigamos!