sábado, 2 de julho de 2016

Ateliê de Memórias da Casa e do Feminino


Participantes em ação
(Foto: Adélia Nicolete)


Concluímos na última quinta-feira mais um Ateliê de Memórias, dessa vez dedicado à Casa e ao Feminino. Foram sete os encontros, cada um deles dedicado a um aspecto do tema, dentre a infinidade de abordagens possíveis. Em termos formais, nosso foco foi a estruturação.

Na primeira sessão refletimos sobre os opostos complementares, dentre eles, o masculino e o feminino, a casa e a rua. A árvore foi nossa imagem geradora e o desenho, a escrita inicial, pré-verbal. A partir daí, iniciamos nossos estudos sobre a estrutura do texto e as articulações entre passado, presente e futuro.

O segundo encontro foi dedicado às miudezas do trabalho feminino, bem como às conversas que embalam as manualidades – a roda de labor manual e relato oral. Como prática trabalhamos com linha e agulha na elaboração de fuxicos que nos levaram a outro tipo de estruturação escrita, "de fora para dentro" - tanto no sentido espacial quanto temporal.

(Foto: Elaine Bombicini)


Um percurso pela casa ancestral foi o desafio da terceira sessão, momento que tomamos pela mão o leitor e o guiamos pelas nossas lembranças. O autor/narrador definiria ou não seu possível interlocutor num estrutura que parte do presente e da rua a fim de embrenhar-se pela casa e suas memórias.

Na dinâmica dos Atelies de Escrita, em cada um dos encontros os textos são lidos e, na medida do tempo, analisados pelo grupo. Vez ou outra faz-se necessária uma parada especificamente dirigida às análises, o que ocorreu no quarto dia. Como os Ateliês seguem o princípio do “fazer para aprender”, são justamente os comentários sobre os exercícios – tanto do ponto de vista de quem escreveu quanto de quem ouviu – que suscitam as reflexões teóricas e sua explanação por parte do condutor ou de um colega: a desierarquização de funções é outra prerrogativa da proposta.

(Foto: Elaine Bombicini)


O quinto encontro foi dedicado às experiências estéticas femininas no lar, desde o exercício diário de estender a roupa de modo ordenado, passando pela composição de um prato e pela mesa bem posta para as refeições, por exemplo, até a criação de artesanias. Após o levantamento de testemunhos e exemplos, cada participante foi estimulado a expor algum tipo de peça artesanal de sua predileção e afeto. Na sequência, deveria escrever um texto que tramasse a obra à sua criadora e às experiências estéticas por ela efetivadas.

A fotógrafa norte-americana Vivian Maier foi a inspiradora de nosso sexto encontro. Após assistir ao filme “Procurando Vivian Maier” e observar algumas de suas produções, além de se debruçar sobre um texto histórico, o grupo discutiu sobre a relação da mulher com a rua. A ideia era falar sobre mulheres que transgrediram padrões e, a partir do levantamento de dados, estruturar um retrato.



Finalmente, a sexta pauta teve como motivação os depoimentos de Estamira, uma ex-catadora de lixo no Rio de Janeiro cuja “filosofia” em muitos aspectos se assemelha à de Riobaldo, personagem de “Grande serão: veredas”, de Guimarães Rosa, e à de tantos outros cuja sabedoria advém da experiência cotidiana. Assistimos ao documentário dedicado a ela, discutimos e, a seguir, refletimos todos sobre o que denominamos nossa “casa impalpável” porque construída de valores, hábitos, exemplos, máximas ouvidas em famílias de sangue ou de coração - a "filosofia" que construímos a partir de nossas relações mais próximas. O depoimento resultante deveria falar sobre isso.

Deu-nos suporte uma série de filmes, contos, poemas e textos teóricos, aos quais nos reportamos, utilizamos como farol ou aprofundamos nossa experiência literária. Assim, contamos com os estudos de Gaston Bachelard, José de Souza Martins, Maria Lúcia Mott e Roberto DaMatta e também com a fruição de Garcia Marquez, Julio Cortázar, Lygia Fagundes Telles, Dalila Teles Veras, Tarso de Melo, Sérgio Faraco, Adélia Prado, Ana Miranda e vários outros.

Cada uma das sessões foi, portanto, um Encontro com a própria escrita e com as escritas alheias, um Encontro com o Outro e também conosco mesmos, com a nossa história pessoal e coletiva. Momentos confessionais, por vezes emocionados, quase sempre engraçados e, sobretudo, de intensa cumplicidade.

(Foto: Marilei Barçalobre)

Agradeço à direção da FAINC (Santo André) por mais essa Extensão Universitária aberta aos Ateliês de Memórias. Agradeço a cada um/a do/as participantes pela confiança de embarcar nessa nau que viaja ao sabor do grupo e suas demandas. Espero nos encontrarmos em breve em outros e ainda melhores roteiros.



Adélia Nicolete

2 comentários:

  1. É sempre uma dádiva participar destes ateliês, os quais resgatam nosso passado e por meio da escrita possibilitam-nos compreender melhor o presente! Obrigada, Adélia, obrigada amigos de ateliê por tanta troca e cumplicidade!!!

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    1. Claudinha, dádiva também é tê-la conosco e perceber a trajetória dos seus textos - e a nossa - durante todo esse tempo.
      Sigamos!

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