Paulo Azevedo, Samira Ávila e Martielo Toledo parte da equipe de criação de "Heróis - uma pausa para David" Produção: SUA Companhia - BH-SP Consultoria dramatúrgica: Adélia Nicolete |
Até bem pouco tempo, a autoria individual de um texto dramático
garantia, de certo modo, o “controle” de todo o processo de escrita – ao menos
até o momento em que a peça era “montada”, com vistas à cena. Ao dramaturgo cabia
criar um organismo em que as partes tivessem correspondência, em que as funções
fossem plenamente justificáveis, que funcionasse, enfim, de maneira autônoma
(como literatura dramática) e exequível por outrem. Daí o suposto “controle”, por
parte do escritor, de todos os aspectos envolvidos, desde a idéia original até
o ponto final. Controle de temas, premissas, personagens, ações e assim por
diante, em busca da referida organicidade.
Atualmente, esse autor divide espaço com outros tipos de
criadores e pode, ele mesmo, desenvolver textos autorais e em colaboração. No caso
desse último tipo de processo, o termo “montagem de uma peça” passa a ser
inadequado, pois a dramaturgia do texto verbal é criada pari passu às demais. O teatro
contemporâneo – aquele que desvia com maior ou menor intensidade da forma dramática
convencional – considera a dramaturgia de maneira mais ampla que a criação do texto
a ser enunciado pelos atores. Assim, há textos da luz, do cenário ou da trilha
sonora, por exemplo, a serem lidos e decodificados pelo público, a dialogar também
com os demais textos envolvidos na criação do espetáculo.
Dito de outro modo, o “controle” do escritor que, no mais das
vezes, colocava o texto no centro do processo teatral, tem de ser dividido com toda
a equipe. Em decorrência disso, o organismo perfeito do drama cede lugar a uma criatura
feita de elementos de origens e formas diversas que pode, sim, ser lida/interpretada
como um todo, mas sem que se perca de vista sua composição a partir da junção
de fragmentos. Em suma, a dramaturgia, antes relacionada ao texto verbal, no teatro
contemporâneo passa a referir-se também à totalidade da cena, pois assumida
como tessitura de ações as mais diversas, inclusive as que se referem ao espectador
. É justamente nesse contexto que surge a figura do consultor de dramaturgia,
da qual trataremos na próxima postagem.
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