Curiosamente, a Apresentação de
um trabalho é feita depois de todo ele escrito. Dessa forma, primeiro temos uma
visão geral do conteúdo para, só depois, apresentá-lo com certa propriedade.
Concluídas
as entrevistas, feitas as pesquisas e terminado o processo de escrita deste
livro, componho uma imagem de seu conteúdo, ou seja, de Sônia Guedes, que é
feita de pura poesia. Desde o primeiro encontro, no qual ela me ofereceu o
famoso chá das cinco, servido em xícaras de porcelana e com direito a bolo, até
nossa conversa mais recente, ela foi de uma delicadeza ímpar.
Isso
não indica, absolutamente, fragilidade. Sônia reúne ao mesmo tempo doçura e
força. Nos momentos em que as confissões eram doloridas ou que a fase em que se
encontrava não era das mais confortáveis, ainda assim era possível identificar
o vulcão, o relâmpago, a determinação incansável. Não fosse isso, ela não teria
enfrentado um sem número de dificuldades físicas e materiais em sua vida.
Vive-se com delicadeza e poesia, mas isso não basta.
Dona
de uma cultura invejável, ela é capaz de transitar com propriedade por entre os
mais diversos assuntos. Leitora voraz, acompanha e discute os últimos
lançamentos literários. Pianista e cantora, tem na música erudita e na ópera
suas principais referências. E como cidadã, reflete a todo momento sobre a
situação política do país, numa insatisfação permanente, que é ao mesmo tempo
freio e motor. Freio porque as injustiças sociais ferem profundamente a
artista. Motor porque, instalada a revolta, Sonia não se contenta em reclamar,
arregaça as mangas e toma a frente de ações concretas. Sempre foi assim.
Portanto, conhecer
pessoalmente essa grande atriz foi um privilégio. Comecei a participar da vida
teatral do ABC paulista nos anos oitenta e, desde o princípio, o nome de Sônia
Guedes esteve presente como referência para todos nós. Ela e outros pioneiros
foram os responsáveis por elevar os padrões artísticos da região. Se hoje
podemos contar com escolas de formação musical, teatral e de artes visuais,
muito se deve ao empenho daquelas pessoas que, desde os idos de 1950 buscaram
estudo, aperfeiçoamento e desenvolvimento na “capital” e lutaram por trazê-los
às cidades periféricas.
Para
a compreensão desses fatos e a realização deste perfil contei com o auxílio de
dois livros de José Armando Pereira da Silva, pesquisador da arte e da cultura
do ABC: Memórias da cidade III e A cena brasileira em Santo André.
Neles, o autor traça um panorama do teatro na cidade, o que permitiu também o
estudo do contexto de alguns trabalhos de Sônia Guedes.
Ela
nos convida agora a tomar um chá em sua companhia. Coloca generosamente diante
de nós uma gama de sabores e perfumes, por vezes contrastantes, como o são
delicadeza e força, paixão e sossego, brisa e furacão. Convida-nos a
compartilhar com ela suas lembranças e inquietações mais profundas, traçando
conosco, a quatro mãos, os versos mais puros da poesia da vida.
Manhã de autógrafos na Livraria Alpharrabio - Santo André (Arquivo pessoal) |
https://www.youtube.com/watch?v=_AM9TZ_nKqU
Para baixar gratuitamente o livro completo em pdf, acessar:
http://livraria.imprensaoficial.com.br/sonia-guedes-cha-das-cinco-colec-o-aplauso-perfil.html
Que delícia! Um desses livros que a gente tem o privilégio de ganhar, ler e se deleitar! Uma lida numa tarde diga-se de passagem. Acrescenta vida, acrescenta conteúdo, mas principalmente acrescenta entusiasmo, pela calidez do tom usado na obra! Está na prateleira junto aos mais queridos livros lidos! Sorte nossa, de Sônia, sorte do teatro! Aplausos, abraços carinhosos!
ResponderExcluirObrigada pela visita e pelo comentário, amiga.
ExcluirFoi bom voltar ao livro para a criação de "Ponto corrente": uma costura presente-passado-feminino com vistas ao bordado do futuro e não à sua espera passiva!
Um abraço carinhoso. Bom saber que tenho lugar especial na sua estante. :)