Dos
meus livros de infância, um dos preferidos era “As mais belas histórias”,
organizado por Lúcia Monteiro Casasanta. Nele eu encontrava Esopo, irmãos
Grimm, Andersen, mas também mitologia e alguns autores brasileiros. Lia e
relia, sempre com interesse renovado. As histórias alimentavam-me a alma e,
hoje sei, o imaginário. Tanto que, ao visitar o “Cantinho da Vovó Bem” lá em
Poconé, tive a impressão de adentrar na caverna de Ali Babá!
Uma das salas do museu domiciliar de Dona Bem (Foto: internet) |
Ali
estão guardados tesouros recolhidos durante décadas. Objetos de família a
registrar artes e ofícios, hábitos e costumes da vida pantaneira. Outros foram
trazidos por amigos ou garimpados nas fazendas e na vizinhança, graças a
indicações: “Dona bem, em tal lugar tem coisa pro seu museu!”. E lá vai a
colecionadora buscar e salvaguardar do esquecimento.
O hábito pantaneiro do guaraná em pó e os apetrechos utilizados para consumo em casa e nas viagens (Foto: internet) |
Louças antigas (Foto: internet) |
A
princípio o acervo estava disposto de modo informal e intuitivo. Depois de alguns
anos de atendimento, porém, ao receber a visita de representantes do Cadastro
Nacional de Museus, a exposição foi organizada por grupos de objetos e dividida
em dois ambientes.
No primeiro plano, a prensa de modelar ladrilhos hidráulicos (Foto: internet) |
A área que abriga os objetos da cozinha pantaneira (Foto: Adélia Nicolete) |
Não
se trata de um museu nos padrões consagrados, pois ali não encontramos legendas
ou placas de identificação. Talvez seja essa a maior motivação para se conhecer
o espaço: ali tudo ganha vida e sentido pela voz de Dona Bem. O percurso que
ela tanto conhece, as histórias ligadas a cada objeto – sua origem, sua
utilização, as circunstâncias que o levaram até ali – as comparações entre hoje
e os antigamentes só podem ser conhecidos na relação, no diálogo com a
colecionadora. Não fosse assim, tudo se transformaria em coisa velha, todo o
tesouro de Ali Babá perderia o brilho aberta a caverna.
(Foto: Adélia Nicolete) |
Iniciativas
como o Cantinho da Vovó Bem precisam ser conhecidas e divulgadas. Sinalizam o
esforço pessoal de preservação da memória não só pela conservação material, mas
pelo convívio com testemunhas de outros tempos. Ali se dá o diálogo vivo entre
passado e presente, entre memória e História, para além do poder público, das
burocracias, da máquina que dificulta a composição e a manutenção de acervos a
ponto de incendiá-los.
Adélia Nicolete
Veja aqui a postagem anterior e saiba mais sobre Vovó Bem e como chegar ao seu Cantinho.
Que incrível! Preciso conhecer de pertinho
ResponderExcluirVou torcer pra você ir logo logo, Sila, e puxar prosa com ela. Um beijo!
Excluir