terça-feira, 9 de agosto de 2016

Giuseppe Versino



Vestimentas e objetos criados por Giuseppe Versino
Exposição "When the courtain never comes down"
(Foto: internet)

Na postagem de hoje dou prosseguimento à tradução e divulgação de parte do material recolhido no Americam Folk Art Museum de Nova York. Em meados de 2015, por ocasião de uma visita à exposição When the courtain never comes down (algo como Quando as cortinas [do palco] nunca se fecham), tomei contato com a obra de uma série de artistas, de diversos períodos e lugares, e que tinham em comum o diagnóstico de distúrbio mental. Dentre eles estavam o nosso Arthur Bispo do Rosário e o até então desconhecido para mim, Raimundo Borges Falcão.

O subtítulo da exposição, Performance Art and Alter Ego,  assinala outra semelhança entre muitos dos criadores apresentados: o fato de serem “performers” de suas obras. Há os que vestem, os que se exibem pela cidade, fazem “shows”, enfim, interagem criativamente com o trabalho criado e também com o público eventual.


Meu interesse pelo tema foi imediato, pois identifiquei a estreita relação entre artista/obra e o teatro, tanto do ponto de vista do resultante quanto dos modos de produção, sempre artesanal. É possível estabelecer pontes com a dramaturgia, o cenário (alguns deles desenvolveram habitações), figurinos e adereços, bem como a própria performance do ator. O presente texto contempla o trabalho de Giuseppe Versino. *


Túnica tecida por Giuseppe Versino
(Foto: internet)

  
O pouco que se sabe a respeito de Giuseppe Versino é graças à sua passagem pelo manicômio. Os registros do antigo Hospital Psiquiátrico de Collegno, norte da Itália, acusam seu nascimento em 10 de outubro de 1882 e o falecimento em 10 de abril de 1963, ambos em Turim. Ainda jovem foi internado com diagnóstico de esquizofrenia, tendo entrado e saído do hospital diversas vezes.


Dele não restaram documentos nem anotações pessoais. O único e precioso registro deixado foram algumas vestimentas que Versino teceu com as próprias mãos.

Detalhe da túnica tecida por Versino
(Foto: catálogo da exposição)


“O paciente afetado com demência precoce, senhor G. Versino, admitido no Hospital Psiquiátrico em Collegno, é encarregado da limpeza diária. Depois de usar os trapos para limpar, ele lava, desgasta e, finalmente, molda-os em cordões que, trançados e amarrados, formarão suas roupas. O peso da túnica que ele usa, tanto no verão como no inverno, é de 20 quilos. Levou aproximadamente um mês para fabricá-la.” *


A nota acima é atribuída ao famoso psiquiatra, criminalista e professor Antonio Marro (1840-1913), diretor clínico do Hospital de Collegno, é provável que ele tenha acompanhado boa parte das produções de Versino, tanto que se preocupou em conservá-las e disponibilizá-las para pesquisas acerca da conexão entre loucura e produção artística.

Casaco, calça e botas manufaturados por Versino
(Foto: catálogo da exposição)


Uma parte das peças criadas por Giuseppe Versino quando de sua internação em Colegno integra o acervo do Museu de Antropologia Criminal Cesare Lombroso, da Universidade de Turim e a outra, do Museu de Antropologia e Etnografia da mesma Universidade. 


Adélia Nicolete


* Veja também:

Raimundo Borges Falcão

Rock'N'Roll

Eijiro Miyama

Charlie Logan

Palmerino Sorgente


* *MANGIAPANE, Gianluigi. Giuseppe Versino. In: AMERICAN FOLK ART MUSEUM. When the courtain never comes down: performance and the alter ego. New York: American Folk Art Museum, 2015. p. 116. (Tradução de Bernardo Abreu) 

Museu de Antropologia Criminal Cesare Lombroso:
http://museolombroso.unito.it/index.php

Museu de Antropologia e Etnografia da Universidade de Turim:
http://museoantropologia.unito.it



4 comentários:

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    1. Babi, sempre penso em você quando posto esses artistas. Vem mais por aí. Um grande beijo e obrigada pela visita!

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  2. Que capacidade é essa de ultrapassar o concreto e com ele inventar... Simplesmente incrível!

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    1. Obrigada pela visita e pelo comentário, Edu. Você, como tecelão que é, pode reconhecer ainda mais o engenho e a arte dessas figuras. O esforço de superação que isso representa. Um abraço, querido!

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