Aline prepara sua cena solo (Foto: Adélia Nicolete) |
Os dois últimos encontros do Ateliê de Dramaturgia da UDESC foram dedicados mais especificamente à experimentação cênica dos textos criados e/ou reescritos ao longo dos três encontros anteriores. Os participantes foram distribuídos em grupos e houve também quem preferisse trabalhar individualmente.
A cada uma das equipes coube um conjunto de escritos a ser selecionado, analisado e tratado conforme melhor conviesse, podendo-se lançar mão de
recorte, colagem, justaposição, sobreposição, bem como da conjugação com a
dramaturgia do espaço, do corpo, da voz e assim por diante.
Dentre os materiais distribuídos pouco havia que fosse convencional ou facilmente transposto para a cena. O desafio foi aceito e vencido e, se mais tempo houvesse, algumas das propostas poderiam vir a ser transformadas em espetáculos.
Dentre os materiais distribuídos pouco havia que fosse convencional ou facilmente transposto para a cena. O desafio foi aceito e vencido e, se mais tempo houvesse, algumas das propostas poderiam vir a ser transformadas em espetáculos.
Marco e Beatriz e sua proposta multimídia (Foto: Vicente Concílio) |
As relações virtuais contemporâneas foram tratadas por Beatriz e Marco por meio dos textos "Putaria", de Vicente e "Tutorial", de Lucas. A dupla utilizou projeções, bem como sua interação com os atores. A gravação de um tutorial de beleza garantiu a relação da personagem com a câmera e, a partir daí, com os possíveis espectadores desse tipo de vídeo - relações mediadas.
Cena de Renata, Fernanda e Stephan (ao centro) (Foto: Vicente Concílio) |
Um espaço aparentemente doméstico foi criado por Renata, Fernanda e Stephan para a encenação dos materiais escritos por Gabrielli ("Cyberespaço"), Beatriz ("Autorretrato") e Ohanna ("Descarte") . O público foi convidado a presenciar o que poderia ser a relação entre membros de uma família, as crises e os impasses dessa convivência. Curioso que o grupo transformou a dificuldade com relação aos textos em um "problema" a ser resolvido pelo público - aquilo realmente aconteceu?, se ninguém viu, aconteceu? - utilizando-se de recortes e repetições, entre outros recursos.
Gabrielli, Aline, Schaitel e Vicente ensaiam (Foto: Adélia Nicolete) |
O corredor foi o espaço escolhido por uma das equipes para tratar, entre outros temas, da solidão em meio ao coletivo. "Na espessura da memória", de Stephan e outros dois textos de autoria de Marco foram experimentados num local de passagem, com os bancos dispostos frente a frente e ao longo das paredes, o que intensificou a sensação de individualismo ainda que se estivesse sentado ao lado de alguém.
A enunciação dos textos pelos atores - individualmente ou em coro - sem um destinatário definido, bem como uma narrativa gravada e acionada próximo do final da cena traduziram a frieza das relações, culminada com a sentença "não há ninguém perto de você" distribuída sob os assentos e repetida muitas vezes pelos atores.
Aline em sua apresentação solo (Foto: Vicente Concílio) |
Aline (acima) quis experimentar um trabalho solo. Nossa leitura de Sarah Kane foi uma de suas inspirações, além do "Autorretrato" e de um texto baseado em Vivian Maier, ambos de autoria de Marco, para desenvolver uma pesquisa em diálogo com a graduação.
A participante operou com objetos descartados e adotou sonoridades diversas como fio dramatúrgico paralelo ao texto verbal: instrumento, garrafas, chaves, correntes, palmas, etc. Segundo ela, as paredes descascadas da sala dialogaram igualmente com a ideia de descarte proposta pela cena.
Lucas em um solo ao ar livre (Foto: Vicente Concílio) |
Ohanna, Audrey e Marcos em cena (Foto: Vicente Concílio) |
A sexta e última apresentação contou com os materiais de Vicente ("Autorretrato"), Stephan ("Como nos outros dias") e de Renata ("Fluox"). O grupo compôs com mastros brancos um espaço exíguo, delimitado, mas perfeitamente devassável pelo olhar do público, que deveria cumprir um percurso até o local e escolher o ponto de vista que melhor lhe conviesse.
Ao chegar, o espectador já encontrava a cena em curso e, depois de uma série de repetições moduladas de forma diferente a cada vez, poderia escolher se retirar, tendo a impressão de que a ação continuaria ad infinitum.
Schaitel durante ensaio da cena (Foto: Adélia Nicolete) |
Chegamos ao último encontro com treze bravos participantes.
Se digo bravos é porque se dispuseram a superar toda uma série de
circunstâncias adversas, otimistas em encontrar algo que lhes fosse proveitoso
em todo o processo.
Encontros mensais mostraram-se até certo ponto
contraproducentes, ao menos nos moldes com que o Ateliê de Dramaturgia tem sido
trabalhado. Encontros semanais asseguram uma apropriação mais efetiva dos meios
criativos e das técnicas de escrita, além de promoverem uma interação mais
efetiva do grupo – condutor incluído – o que determina tanto um aprofundamento
do processo quanto uma radicalização paulatina das propostas. Encontrar espaço
e disponibilidade para o Ateliê em meio ao semestre letivo também foi prova de
resistência para todos.
Lucas, Vicente e Renata durante ensaio (Foto: Adélia Nicolete) |
Em todo caso, diversos escrevedores aplicaram em seu
estágio ou em suas atividades artísticas alguns dos exercícios desenvolvidos no
Ateliê de Dramaturgia ou neles inspirados. Sem dúvida, foram criados materiais
textuais significativos, ainda que não tenhamos tido tempo para uma análise
mais aprofundada com vistas à reescrita.
Mesmo discordando da condução ou dos rumos tomados pelo
processo, todos se dispuseram à experimentação, o que atesta não só a generosidade,
mas também a maturidade do grupo. A postura profissional pode ser identificada durante todos os encontros. Sucesso a todos!
Stephan durante ensaio da cena (Foto: Adélia Nicolete) |
Vicente e Marco |
Agradeço novamente aos escrevedores e louvo seu empenho.
A Stephan e Vicente, queridos, agradeço pelo convite e pela acolhida.
Recebam todos o meu abraço!
Adélia Nicolete
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