Conheci
Carlos Rosa no começo do século, como ator da Cia Teatro da Cidade de São José
dos Campos. O espetáculo, Maria Peregrina, era a primeira parceria do
grupo com o dramaturgo Luís Alberto de Abreu. Em seguida, escrevi eu mesma um
texto em que o Carlos atuou, As serpentes que roubaram a noite, baseado
no livro homônimo de Daniel Muduruku. Entre uma e outra tive o prazer de
conviver com ele e compartilhar do seu talento para a comédia, mesmo fora da
cena. Notar seu raciocínio rápido, seu modo de observar o mundo com um olhar e
uma inteligência típicos dos atores e autores cômicos.
Bem,
esse preâmbulo serve para três coisas. Primeiro para dizer que estou falando de
alguém que conheço e de que gosto. Segundo, pra dizer que, sendo ator, Carlos
Rosa conhece o outro lado do ofício e é sempre bom quando um intérprete busca
saber mais sobre dramaturgia. Ganha a dramaturgia e ganha a cena. E, por
último, porque sendo um ótimo ator de comédia, é curioso que ele tenha buscado
em seu primeiro texto a “seriedade” do drama.
Confesso
que logo que recebi o texto de Quem será contra nós... e atinei com o
ditado popular que inspirou o título, já tive vontade de rir. Imaginei alguma
situação hilariante entre os personagens e, pelos motivos que expus lá no
primeiro parágrafo, tratei de imaginar o próprio autor fazendo um dos papéis. À
medida que lia, vi que a situação não era propriamente engraçada, mas irônica,
e pensei: ele deve estar preparando alguma, mais cedo ou mais tarde isso se complica
e acaba virando comédia. Realmente, a situação complicou, mas acabou por
revelar uma crítica demolidora, literalmente, que não lembra em nada a
destruição/reconstrução cômica.
Carlos
Rosa se debruçou sobre um tema atual, importante e urgente, sem meias palavras.
Seus personagens argumentam, contra-argumentam e, à medida em que se
intensifica a tempestade lá fora, percebemos que as quatro paredes entre as
quais se encontram são sólidas apenas na aparência. Nesse embate as certezas se
relativizam, as posições se invertem, máscaras são arrancadas e revelações
acontecem - como pede o drama. E a crítica feita pelo autor a um certo estado
das coisas acrescenta ao texto um incômodo que toda peça deveria ter, seja em
que grau for.
É
uma bela estreia. Mostra bem o trabalho de estruturação, de articulação das
ideias e de investimento nos diálogos. Mas será que agora, dado seu primeiro
passo na dramaturgia como autor sério, o meu amigo Carlos Rosa poderia presentear-nos com uma comédia?!
(O texto foi publicado no livro Dramaturgia em foco. Jacareí : Nova KMR, 2013)